A primeira dose pura de Salvador foi no buzú (note a intimidade com o dialeto) que me deixou na capoeira. Entrou um senhor bem preto e velho e sentou há uns dois assentos atrás do que eu estava. Com uma pasta de papelão na mão, da qual fazia de amplificador de sua voz alta e aguda. As primeiras palavras foram na verdade um teste sonoro mesmo:

 

-Alô, som. Teste. Tessste. Um, dois, teste! Alô, alô!

 

Em seguida, ele emplacou uma marchinha que infelizmente não fui tão sagaz a ponto de encontrá-la na internet e colocar o link aqui, mas garanto que era uma mensagem das forças do carnaval diretamente para mim. Ou para quem estava naquele ônibus chegando para curtir a semana e posteriormente o carnaval. Ele fazia isso para arrecadar umas moedas que seria para uma senhora que andava mal de saúde e precisava “de uma renda, seja qual fosse”. Caprichou então numa marchinha para o cobrador, que parecia já conhecer aquele cantador e somente deixava o artista se apresentar.

 

-Eu vou mandar uma mensagem agora pra nosso amigo aí, o cobrador. Essa mensagem, cobrador, vale até nove de novembro de dois mil e dezenove (a história se passou em 2010):

 

“Mandei fazer um picolé de cachaça, 

que muitios bebe e é popular na praça. 

E dessa vez vai ser uma coisa louca, 

o cobrador vai pular de picolé na boca.”

 

Após os aplausos, ele decidiu falar de fofoca:

 

-Agora eu vou também falar das mulheres que não gosta de fofoca, as que já gosta de fofoca não precisa falar mais:

 

“Eu nasci foi na fofoca, 

na fofoca eu me criei. 

Desse jeito que eu to vendo, 

na fofoca eu morrerei. 

Tentei sair da fofoca, logo arranjei alguém, 

esse alguém que eu arranjei é da fofoca também…

To lascado!”

 

ps.: Ele ainda disse bem calmo ao sair do buzú:

 

-Não vá pra casa com remorso por causa de uma moedinha, não! (Bonito, né?)

*a foto é só para dar engajamento